sábado, 26 de julho de 2008

Quando a pegada é fundamental

Toda mulher sonha com o príncipe encantado. O cara que te liga. O que te manda flores. Atencioso.Aquele que você apresentaria pra sua mãe sem medo da esculhambação depois. Pois bem, vou contar aqui o dia em que eu saí com um desses exemplares.
Era sexta- feira a noite e o Samurai já estava me apurrinhando desde o começo da semana para irmos ao cinema.
Como o plano A e o plano B já haviam miado resolvia apelar para o plano C e confirmei o cinema com o Samurai muito de má vontade.
O Samurai é um cara apresentável, formado, estabilizado, 28 anos, educadíssimo e usa um perfume ótimo, o típico cara que tranquilamente você poderia escolher como o pai dos seus filhos. Só lhe falta um item. A tal da pegada.E a pegada, devo confessar, é na maioria das vezes um dom inato dos cafas.E a pegada, senhoras e senhores, não é simplesmente o ato da pegação. Ter pegada é muito mais que isso.É o jeito de falar, de olhar, de se comportar, é a segurança que o outro te transmite. É todo um conjunto de fatores que te leva chegar a conclusão de que determinado indivíduo tem a pegada.
Mas voltando ao assunto, resolvi agir racionalmente e dar pelo menos uma vez na vida chance pra um cara sem um mínimo traço de cafajestagem em sua personalidade. Eu tentei. Eu juro, amigas, eu tentei.
Eu estava com sono e cansada. E já estava arrependida de ter aceito o convite.Mas nós íamos como amigos, o que tinha demais eu ir no cinema com um amigo numa sexta- feira a noite nada- pra- fazer?
Prá começar já enviei um torpedo avisando de que eu ia atrasar em meia hora pra dar uma desanimada no Samurai.Marquei as 21:40, as 21:42 ele me ligou dizendo que estava na porta do meu prédio.
Desci e o Samurai todo solícito abriu a porta do carro e rumamos ao shopping.
Nessa parte eu já tinha certeza que estava arrependida e o que se seguiu a partir daí foi uma sessão interminável de ogrices (da minha parte) pra ver se aquela tortura terminava o mais rapido possível.
Pra começar já entrei no carro mandando msg pro celular de uma amiga, numa demonstração clara do meu desinteresse por ele.E ainda durante todo o encontro, inclusive dentro do cinema, continuei me correspondendo por msg com meu plano B.
Já na praça de alimentação o Samurai me perguntou se eu havia ficado esse fim - de- semana na cidade pra sair com ele. Eu respondi curta e grossamente que na verdade eu só havia ficado na cidade porque minha mãe tinha viajado e ela não estaria em casa (meus pais moram em outra cidade).
Fui chata. Mandona. Ele quis comer em um lugar eu quis outro. Ia andando na frente e deixava o Samurai falando sozinho.Só não parei pra comprar um sapato porquê não passamos por nenhuma loja.
O golpe de misericórdia foi quando entrei no cinema e não contente em somente ficar de trelele com meu pegueti plano B via sms, ainda saquei meu óculos de grau da bolsa e disse que ia ver o filme.
Agora parem tudo. Onde, quando e em que circunstâncias eu usaria meu óculos de grau(fundo de garrafa diga- se de passagem) com um pegueti que eu estivesse realmente afim?!?!?!? No segundo encontro ainda por cima?!?!
Mas o Samurai não entendeu o recado e pra meu desespero e apavoramento toda hora tentava pegar na minha mão dentro do cinema.
Depois do filme ele contiuou finíssimo abrindo a porta do carro, segurando a minha bolsa e tudo mais.
Nessa parte eu já estava confortavelmente muda voltando pra casa, quando ele me disse que estava quieto porque estava nervoso (não estava nervoso comigo, mas sim com a minha presença) e eu, com a sensibilidade de um rinocerante africano disse que estava quieta porque estava com sono.E só.
O Samurai não se intimidou e depois dessa série de má- criações ainda me interpelou com a pergunta: "Você acha que estou enganado em querer alguma coisa séria com você?".Gente, pelo- amor- de Deus!!!!. Eu fiz o cara de tonto a noite inteira, fui no mínimo mau- educada e o cara no fim da noite me fala em namoro?Eu estava indignada.
Dessa vez contive as patadas e disse apenas que não o conhecia direito. Não tinha como responder. E pra falar a verdade as palavras me faltaram nessa hora.
Saí do carro, dei um beijinho na criatura e saí correndo. No outro dia, ainda fui contemplada com um depoimento romântico pelo orkut onde ele dizia que tinha adorado a noite!!!!!
A noite foi um desastre completo pra mim,mas dela eu consegui tirar algumas lições:
A primeira é que uma dose de cafajestagem é como canja de galinha,nunca faz mal a ninguém.
A segunda é que onde não há química, nem prossiga, não dá física.
A terceira, minha gente é que pegada é sim, fundamental.
E a quarta e a mais grave. O ser humano tem uma tendência séria a gostar de tomar porrada.
E digo isso tanto da minha parte como da dele.
Talvez se eu tivesse sido toda meiga e simpática ele não tivesse se comportado assim. Talvez se ele tivesse sido um pouco mais cafa, quem estaria escrevendo o depoimento no "day after" seria eu.
A questão é que muitas vezes você não pode deixar sua insegurança se refletir no outro e deixar que ele faça o que quiser com você.Logicamente que você não vai se utilizar das ogrices citadas anteriormente(algumas não, rs) mas deixar o cara confuso muitas vezes é o segredo do negócio.
Na verdade fácil mesmo é a teoria.
Difícil é colocar tudo isso em prática com aquele seu cafa de estimação pegada 9 na escala Richter, num domingo chuvoso....