quinta-feira, 22 de novembro de 2007

O Dumbo

Eu tinha quinze anos, quase beirando os dezesseis e nunca tinha beijado na boca e acreditem isso era um fardo pesado de se levar. Isso mesmo eu era a famosa BV. Minhas amigas de colégio me olhavam como um bicho em extinção aquela altura do campeonato, mas era todo um histórico de opressão materna e eu devo confessar, eu morria de medo de beijar. E ainda devo dizer que fui precoce, porque uma das minhas primas só beijou com dezessete (!!!!!!!!) anos, e ela é lindíssima, tinha milhares de meninos aos pés dela, mas era um trauma de família mesmo, rs.
Foi nessa época que apareceu Dumbo. Na verdade eu já conhecia ele a tempos. Porque ele era primo de uma prima minha. Mas eu nunca tinha reparado direito nele. Até o dia que ele reparou em mim. Foi assim num baile de Findomundópolis. Dumbo chegou em mim e eu achei graça. Afinal nos conhecíamos desde a tenra infância. Mas comecei a olhá - lo com outros olhos. Ele não era bonito (pelo apelido você tem uma noção), mas o Dumbo tinha um problema sério,ele estava na moda.Era um dos playboyzinhos da cidade, estava entre os TOP 10.Onde ele passava , tinha umas cinco, seis, desmaiando. E eu que ainda estava no estágio evolutivo da idiotice, caí de amores.
Eu ia pras férias em Findomundópolis e a primeira pessoa que eu via quando eu chegava era ele. Ele trabalhava no posto de gasolina do pai dele e eu sempre via ele sentado lendo jornal. Que coisa intelectual!
Mas tinha um porém, o Dumbo tinha um rolo com uma menina da mesma turma que eu. A galinha caipira. E eu que já tinha esse espírito de "lealdade, igualdade, fraternidade" achei meio sacanagem fazer isso com a menina. Mas não teve jeito.
Depois de muito enrolar o Dumbo, um dia não teve escapatória. Eu que já havia tido minha primeira experiência na área do beijo me surpreendi com ele. E aí o amor platônico virou paixonite aguda. Nem preciso dizer que isso causou um racha na turma né? E onde éramos seis viramos três.
Só que eu e o Dumbo morávamos em cidades diferentes. Só nos víamos e épocas de feriados e férias.
E um dia o Dumbo começou a namorar e não era comigo. Começou a namorar a galinha caipira. Foi um choque.
Mas para o Dumbo uma coisa não tinha nada a ver com a outra.Era como se a namorada fosse um mero detalhe. Ele continuava passando em frente a minha casa assim como quem não quer nada, embora a minha rua fosse a penúltima rua da cidade e todo mundo soubesse que ele não tinha nada pra fazer naqueles lados. E eu continuava fazendo "encontros casuais" com desvios de quase dois quilômetros da rota normal para se chegar ao point da cidade só pra ver ele (isso tudo a pé minha gente, ninguém dirigia, e sempre iam comigo mais duas ou três testemunhas, porque gente boba e estrada ruim nunca tem fim né não?Mas relevem eu tinha 15 anos e as comparsas também).
E foi assim. durante dois anos eu fiquei com o Dumbo escondido. Não me lembro de nenhuma férias, feriado, carnaval ou o raio que o parta nesse tempo que eu não tenha ficado com ele. Ou ele ia em casa antes de encontrar com a galinha caipira, ou colocava a galinha pra dormir e ia atrás de mim. E eu sofria igual uma condenada. Colocava uma música do Zezé di Camargo e era aquela auto- flagelação que nós todas conhecemos bem.
E o Dumbo fingia muito bem. Afinal né, ele falava que eu era a mulher da vida dele, que ele iria casar comigo, que a galinha caipira era burra que nem uma porta, que eu era a mulher ideal, mas ele namorava quem? A famigerada galinha caipira e agora também burra. E quando ele fingia ter ataque de ciúmes quando os amigos dele chegavam perto de mim? Nossa era digno de Oscar.
Mas um dia parece que o horizonte se abriu e bani o Dumbo da minha vida. Disse que estava cansada de ficar escondida. Chutei o balde. Desiludi.
Qual não foi minha surpresa quando três meses depois Dumbo abandonou sua galinha. Eu lembro que a notícia me causou um certo abalamento psicológico. Mas mesmo assim segui firme no meu propósito.
Dumbo me procurou, propôs que ficássemos juntos, e eu até tentei, mas vi que não tinha mais nada a ver e deixei o Dumbo falando sozinho no meio de um baile em Findomundópolis.Do jeito que começou, terminou.
Acho que eu já estava apaixonada pelo próximo cafa da fila.
Hoje, quase 10 anos depois, ainda encontro ele pelas ruas de Findomundópolis e ainda ele me causa uma sensação estranha, mesmo ele estando em franca decadência, sei lá, acho que o primeiro cafa a gente nunca esquece!

Um comentário:

Lorena Ribeiro disse...

É incrível como as histórias se repetem!

beijosss!